domingo, 11 de outubro de 2009

Faltam Grandes políticos


Excelente artigo de João Garcia na última edição do Expresso. Passo a transcrevê-lo na integra, pois vale realmente a pena.


"Numa época em que prealecem os valores materiais, não espanta que haja tendência para valorizar a eficiência em desfavor da moral. Avalia-se a obra, mais do que a ética.

Mudar esta forma de escolher a classe dirigente só se conseguirá se a qualidade dos políticos aumentar e, por essa via, lhes advier o prestígio perdido. Mas não é isso que tem acontecido nas últimas décadas, em Portugal e na Europa, como repetidamente tem salientado Mário Soares. As mais aliciantes remunerações no sector privado e o crescente escrutínio pela comunicação social tornam cada vez mais difícil esquecer interesses individuais e aceitar sacrifícios em funções cívicas, a que recentemente apelou, no 5 de Outubro, Cavaco Silva. Faltam líderes com espírito de missão e sobram grandes e pequenas histórias sobre interesses pouco claros. Daí ao "são todos iguais" vai um passo.

O sucesso de Isaltino Morais em Oeiras (ganhe ou não as elieções, terá sempre uma votação expressiva) mostra que, mesmo nas comunidades com mais instrução, mais acesso à informação e de maiores rendimentos, o cimento pesa mais que a probidade. A verdade é que Isaltino sofreu uma primeira pesada condenação - embora não definitiva - e assumiu práticas inaceitáveis - como admitir malabarismos com o fisco -, mas continua a ter fortes apoios no concelho com mais licenciados e maiores rendimenos por habitante.

Os tempos que correm, em que vinga a informação maisfútil e superficial, em que os protagonistas da sociedade têm de sabercomunicar por soundbytes, não ajudam a mudar mentalidades. Mas os grandes políticos são os que sabem ir contra a corrente."

Fonte: "Expresso", 09-10-09