sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Eleições e algo mais



Ainda que com alguns dias de atraso, segue a minha análise aos resultados das eleições legislativas.

O PS consegue aguentar-se bem em termos eleitorais, perdendo a maioria absoluta mas ficando numa posição relativamente confortável, podendo ir escolhendo pontualmente parceiros para aprovação de diplomas (Bloco e Partido Comunista nos costumes e vertente social e CDS/PP na parte económica).

O PSD sai numa posição bastante fragilizada, ficando claramente aquém do que seria expectável. Depois de 4 anos de desgaste do Governo liderado por José Sócrates, uma série interminável de "dossiers mal explicados" e da crise instalada no nosso País, o PSD fez mesmo o mais difícil! Acredito que tenha havido transferência de 4-5% de votos para o CDS/PP e uma quantidade razoável de eleitores que tenham preferido colocar a cruz na "rosa", em detrimento da "laranja". Acredito que depois das eleições autárquicas Manuela Ferreira Leite saia pelo próprio pé.

O CDS/PP é, para mim, o grande vencedor das eleições. Não só passa de partido do taxi a partido do mini-bus, como se encontra na melhor situação possível: tem o poder de negociar acordos com o Executivo sem, contudo, poder ser responsabilizado pelo Governo do País.

Quanto ao Bloco de Esquerda, e apesar do forte crescimento do número de deputados e votos, ficou claramente com um grande amargo de boca de ter tido uma vitória "pífia", pois não só ficam atrás do CDS/PP como não consegue a % desejada de votos por forma a coligar-se ao PS para criar um cenário de maioria absoluta. Acredito que o Bloco tenha atingido nestas eleições o pico da representatividade, caindo a sua expressão de agora em diante.

O PCP caiu para 5ª maior força política, tendo porém a satisfação de ter estabilizado (e até reforçado) o seu eleitorado. Gostaria de chamar a atenção para um facto poucas vezes comentado: estou convicto de que foi a contestação fortíssima dos professores na anterior legislatura que impediu uma nova maioria absoluta para o PS. Foi esse o ponto de viragem da Governação de Sócrates e se há partido que tem mérito na forma como os professores se organizaram através da CGTP, esse partido é o PCP.

Mais alguns comentários:
  • Os pequenos partidos foram incapazes de eleger qualquer deputado. Tinha alguma expectativa quanto ao MEP mas parece que o povo Português ainda não está disposto a sair do status quo dos 5 grandes partidos;
  • O PS gastou mundos e fundos na sua campanha, por oposição a PSD e CDS/PP, por exemplo. Numa altura em que o País atravessa uma crise gravíssima, é um péssimo exemplo de como esbanjar dinheiro. Além disso, fico sempre com receio de eventuais contrapartidas que esse financiamento acarretará no futuro, nomeadamente no que ao lobby das construtoras diz respeito. Estaremos cá para ver...
  • Tenho expectativa quanto ao novo elenco Governativo que está a ser preparado. Se parece claro que Maria Lurdes Rodrigues vai ser "gentilmente convidada a sair" e Mário "Jamais" Lino deixará de ser opção, já quanto às pastas da Economia, Justiça e Administração Interna é imperativo que hajam novas caras e, sobretudo, mais competência. Por último, espero que Teixeira dos Santos - o melhor Ministro a meu ver - continue à frente da pasta das Finanças;
  • Quanto ao episódio com o Presidente da República vou ser muito breve: houve erros de parte a parte e espero que se ponha fim rapidamente a este ambiente de instabilidade institucional que está criado. O País e todos nós agradecemos.