terça-feira, 2 de outubro de 2007

O anti-americanismo europeu

Repugnante a existência de um modo de pensar anti-EUA. A nação que mais contribuiu no século XX para o mundo ocidental viver em liberdade, para os avanços no domínio da tecnologia e da ciência, para o domínio do pensamento e da sociedade de informação. Através dos EUA, a Europa libertou-se do nazismo e do comunismo. Ainda hoje, os EUA representam a protecção militar da Europa contra a nova forma de fascismo, o islamismo. Por isso, só encontro justificação para um pensamento anti-americano por parte da esquerda por inveja e revolta pelas derrotas morais e económicas da sua potência representante, a União Soviética. Mas não só, o porta estandarte europeu do socialismo, a França, viu a sua influência mundial diminuir a passos largos. Quando tinham tudo para liderar a Europa da CEE, Miterrand e os seus sucessores socialistas (e Chirac convenhamos) construíram e sustentaram na França um modelo social e económico muito complexo e de difícil subsistência, que agora crêem estar ultrapassado. Em termos de PIB per capita, foram ultrapassados há muito pela Alemanha, e agora pelo Reino Unido. E não podem clamar que nos EUA há 30 milhões de pobres, quando eles recebem dezenas de milhares de imigrantes por mês vindos da América do sul. Ou quando o pib per capita francês é 70% do americano, tendo sido mais alto relativamente. A direita anti-americana tem como pressupostos ideais nacionalistas que não se enquadram com o multiculturalismo e a globalização. Os nacionalistas acreditam em sociedades identitárias que funcionam como comunidades, preservando os seus valores, cultura e língua. Faz-lhes confusão um país assente em diferentes etnias, construído pela união de imigrantes vindos de todo o mundo, que funcionando em comunidade, trabalham em prol de uma nação. Mais, dizem-se americanos em primeiro lugar.

A Europa tem necessariamente de consolidar as relações transatlânticas e não considerar os EUA como adversários. Os interesses dos EUA são os mesmos da Europa. E nunca coincidiram tanto como agora. O inimigo é comum. Os recursos energéticos, maioritariamente, estão nas mãos de países instáveis, como a Arábia Saudita e a Argélia, ou provocadores, como a Rússia e o Irão. A negociação deixou de ser comercial, para se tornar política. E os EUA captaram este ponto, pois utilizam meios efectivos para obter recursos essenciais e alianças estratégicas. A Europa tem de perceber como um país distante, que dizem ser odiado no Médio Oriente, consegue ter 1) muito maior influência que a UE nas negociações de paz entre Israel e a Palestina, ou no caso do Líbano, 2) tem como aliados no Ásia o Paquistão (cuja ex-presidente Benazir Bhutto admitiu que os EUA pudessem atacar a al-Qaeda no Paquistão) e, sobretudo, uma aliança estratégica com a Índia, 3) e é o primeiro a reagir e a condenar quando se verificam abusos de interferência externa, o caso da Ucrânia de Taiwan, quando há atropelos aos direitos humanos, Birmânia e Bielorrússia, quando se pratica genocídio generalizado, Darfur, ou quando há possibilidades de surgirem estados radicalizados, Somália. Os EUA cada vez fecham menos os olhos a atropelos à democracia, e actuam de uma forma responsável e sensata, em contraste com as intervenções puramente ideológicas durante a Guerra Fria. Mesmo no caso do Iraque, os propósitos eram e continuam a ser positivos. Mantém-se uma vontade expressa de construir uma democracia no Médio Oriente. Quando avaliamos o comportamento das outras potências, China e Rússia, só os vemos actuar no seu interesse. Sempre. É um escândalo a protecção chinesa às ditaduras na Birmânia, no Vietnam e na Coreia do Norte, a intervenção puramente económica em África (sacar o mais possível de recursos naturais) e a interferência na política interna de Taiwan. No caso da Rússia, a protecção dada ao governo autoritário da Bielorússia e a chantagem imposta à Ucrânia nos preços do gás, são exemplos práticos da sua política externa. Agora reparemos na diferença de intenções entre os EUA, de um lado, e o eixo China/Rússia, do outro. A esquerda anti-EUA exige 100 vezes mais aos americanos, mas quando falham são sempre culpados. E fecham os olhos a muita coisa que se passa no mundo, mas fiscalizam qualquer acção americana.