sábado, 22 de setembro de 2007

O que se passa no Médio Oriente

Um dos cenários onde se joga o futuro do Médio Oriente é o Líbano. O recente assassinato de Antoine Ghanem, membro do partido falangista de inspiração cristã maronita, e conhecida figura anti-síria, é mais um golpe para a desestabilização do frágil governo secular e das próximas eleições presidenciais. De forma eficaz e silenciosa, destrói-se uma democracia. Sem acusações concretas (a não ser a um país), a situação degrada-se de dia para dia. Como friamente analisou Robert Fisk, correspondente do The Independent, "falta apenas matar um deputado" para que o governo do Líbano se dissolva. Na comunidade internacional, parece que há consenso sobre quem são os maus da fita, o duo Síria-Irão e o grupo terrorista Hezbollah. Nos meios utilizados para combater estas facções, não há consenso. Não sendo defensor (para já) de um ataque militar cirúrgico que modifique de uma vez por todas as lideranças políticas no Irão e na Síria, acho que a situação deve ser resolvida no Líbano. E o primeiro passo é desarmar, nem que seja à força, o Hezbollah, e submetê-lo à autoridade do exército libanês. O que está a ser feito para esse fim, pelas tropas da UNIFIL, sinceramente não sei. Mas suponho que não seja muito. Uma tropa eficaz neste contexto nunca seria uma tropa defensiva de manutenção de paz, mas sim uma tropa de ataque preparada para lidar com um grupo que é considerado como terrorista pela União Europeia, sobretudo se no futuro não se desarmar de livre vontade. Caso o desarmamento seja uma realidade (duvido), e tendo em conta que não podemos mudar consciências, é essencial que se negoceie a constituição do Hezbollah como partido político, porque uma ilegalização seria impensável dado o apoio popular o grupo tem dos xiitas do sul do Líbano. Mas o sucesso do Hezbollah tem outra vertente. Não é só pela ideologia. É a quantidade de serviços que prestam à população do sul do Líbano que se sente abandonada pelo governo. E uma das prioridades da UNIFIL é garantir que o estado central chegue a estas populações em todas as suas formas: exercício de soberania e autoridade, serviços públicos, benefícios sociais, investimento e representação política. Contudo, neste ambiente de intimidação política abusiva, tenho dúvidas que um governo anti-sírio, mesmo legitimado pela população, consiga governar.