domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sócrates tem condições para continuar como PM?


Entendo que não. A desconfiança política que envolve o homem José Sócrates não me permite continuar a confiar de maneira alguma neste Primeiro-Ministro. Melhor que o episódio da tentativa de controlar determinados meios de comunicação contado na sua plenitude, são os pormenores que o constituem e representam a génese de todos os vícios da democracia nas relações obscuras entre o poder político e económico. Não julgava tal enredo possível.


Tendo em conta que se trata de escutas mais do que fiscalizadas e analizadas (no âmbito do processo Face Oculta), vou assumir que se trata de um enredo verdadeiro. Puramente verdadeiro. Nesse sentido, começo por não perceber a orientação de determinados socialistas (como Ana Gomes e Vítor Ramalho) que consideram que se devem prestar mais esclarecimentos e manter a investigação sobre este caso, num rasgo de distanciamento "mínimo" das posições oficiais do Governo (que são de nem sequer comentar o caso ou assumir que tudo o que está mal parte sempre do Ministério Público), sem que seja tomada qualquer decisão no seio do partido de substituir o actual PM. Que rebeldia, que distanciamento....Acontece que as escutas divulgadas pelo SOL mostram que esteve em curso um plano mais do que concreto de manipulação e tentativa de controlo de determinados grupos de comunicação social! Não basta o que já foi divulgado? Pelos vistos não.


Eu não sou a favor que se substitua o Governo socialista. Num contexto de elevadíssima dificuldade económica, em que a respeitabilidade do país se joga nas agências de rating e nos mercados internacionais como se uma bolsa de valores se tratasse, é necessário cumprir o orçamento, dar todos os sinais possíveis de estabilidade, mostrar à UE e aos investidores da dívida pública portuguesa que temos um caminho a seguir e este prende-se com a redução do défice orçamental. Uma gestão governativa a duodécimos seria catastrófica no panorama actual e creio que o PSD não estaria pronto a governar tão cedo. No entanto, a manutenção do actual PM não possibilita qualquer rumo governativo com a estabilidade e sustentabilidade desejáveis, mesmo num contexto internacional. Por isso, creio que a substituição de Sócrates seria um mal menor.


Contudo, não vejo figuras como João Cravinho, Vera Jardim, Jaime Gama, Ana Gomes, Ferro Rodrigues, Manuel Maria Carrilho, Mário Soares, Almeida Santos, Medeiros Ferreira, enfim, socialistas com alguma respeitabilidade no panorama político nacional, darem o "toque de partida" e considerarem sequer a alteração do PM (pelo menos no domínio público). Num partido que muitas vezes se agarra ao poder e utiliza as suas redes como proliferação do seu domínio, mas ao mesmo tempo tem acessos de liberdade respeitáveis, era de esperar maior desprendimento face ao poder e iniciativa própria nos momentos mais delicados. Considero que o PS não tem estado à altura dos acontecimentos.


Resta ao PSD seguir o seu rumo e eleger o melhor candidato possível. Este candidato poderá não vir a ser o próximo PM, mas terá elevadas probabilidades de o ser, nem que seja daqui a 4 anos mantendo uma saudável rotação partidária nos lugares de decisão.


PS: Não entendo Eduardo Pitta que refere que o caso das escutas preocupa cerca de "500 pessoas (magistrados, polícias, spin doctors, jornalistas, políticos, intelectuais, colunistas, bloggers, activistas, patetas à boleia)". Eduardo Pitta simplesmente não tem noção que o país real também pensa para além da sua carteira e dos seus problemas mais imediatos. Pensa, por exemplo, na honestidade dos seus políticos e na reputação do país no exterior.