domingo, 14 de fevereiro de 2010

Caldeirão da vergonha


Do que se tem ouvido e sabido nos últimos dias/semanas referente ao designado caso "Escutas/José Sócrates/PT/Media Capital/Prisa/", deixo de seguida algumas notas de reflexão:


  • Rui Pedro Soares e Soares Carneiro (ambos membros da Comissão Executiva da PT, o primeiro com o pelouro do imobiliário, segurana, autarquias e patrocínios e o segundo com responsabilidade ao nível da gestão do Fundo de Pensões da PT): dois boys tão típicos da realidade Portuguesa, com uma ascensão meteórica potenciada pela tão habitual nebulosidade entre política e meio empresarial. Ficámos a saber coisas tão "normais" como o facto de o fundo de pensões da PT ter feito um investimento de €75 milhões na Ongoing, por forma a injectar músculo financeiro nesta última com o objectivo final de adquirir, pela porta do cavalo, uma posição relevante na Media Capital. Soube-se ainda que, pelos vistos, a PT tem dinheiro para dar e esbanjar, visto ter alegadamente atribuído de €750 milhares de euros a Luís Figo para apoiar o PS nas últimas eleições legislativas (diga-se de passagem que o ex-capitão da Selecção Nacional nunca enganou quando ao seu carácter merc$ntilist$).

  • Henrique Granadeiro e Zeinal Bava (respectivamente Chairman e CEO do Grupo PT): parece que o primeiro de sente "encornado" pelo facto de alegadamente não saber do esquema montado pelo Governo no sentido de usar a sua posição na PT para adquirir a Media Capital e, dessa forma, formar um grupo de comunicação social favorável ao Governo. Ora, das duas uma: ou está a mentir e pactuou com algo de muito grave ou não sabia de nada (o que parece estranho, ainda mais devido ao tema altamente sensível de que se trata) e então não tem condições para manter confiança pessoal na Administração da PT. Zeinal Bava, com a sua aura de "mago das finanças", sai chamuscadíssimo desse enredo, ainda que com a habilidade de fazer transparecer que nunca teve nada que ver com esta operação (não é por acaso que numa certa fase tentou fazer o negócio através de fundos de investimento).
  • José Sócrates teve azar no meio disto tudo. Pensou que podia controlar um conjunto de meios de comunicação social à custa do dinheiro de todos os contribuintes numa lógica de controlo da informação que tem, em muitos aspectos, semelhanas aterradoras com o Estado Novo. Mentiu aos Portugueses e aos deputados da Nação quando disse no Parlamento que não sabia de nenhuma operação que estivesse a ser preparada no sentido de tomar de assalto um canal privado de televisão Nacional. Acresce a esse facto a evidência que agora se torna clara de que colocou enorme pressão num conjunto vasto de pessoas cujo futuro profissional dependeria sempre de confiança política e, mais grave do que tudo, insiste na teoria da "cabala política" contra a sua figura. Não tenho qualquer dúvida que em qualquer País civilizado já há muito tempo que o próprio partido o tinha posto de lado, forçando uma alternativa em termos de liderança, isto já para nem falar da ausência completa de sentido de estado e ética por parte de José Sócrates. Mas também, com uma carreira pessoal e política feita dos casos que conhecemos, não se esperaria muito melhor...