quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

2009


O ano de 2009 que agora finda fica marcado, na área económico-financeira, por alguns factos que merecem reflexão e que deverão ser levados em linha de conta na projecção do que será o ano de 2010.


PORTUGAL

Sem dúvida alguma que o problema do desemprego, o qual assume os números mais elevados desde a década de 70, ensombra toda e qualquer análise feita à economia Portuguesa. Trata-se de um valor já muito próximo dos 10% e que, no ano que se segue, poderá chegar aos 11%-12%. Uma tragédia social, a merecer reflexão.


Se é verdade que numa situação normal a prossecução de uma política orçamental expansionista poderia ter um contributo determinante para amenizar o desemprego, a verdade é que com um défice público esperado acima dos 8% no final de 2009 se torna impossível usar este instrumento para relançar a economia. Mais grave ainda é o cenário quando se leva em linha de conta o facto de as agências de rating (Fitch, S&P e Moody´s) estarem atentas a Portugal e de, muito provavelmente, virem a efectuar o downgrade da dívida, causando o aumento do spread face às bunds Alemãs e, por essa via, aumentar os encargos associados aos juros da dívida pública.


Mas se na parte macroecnómica o cenário se apresenta "negro", quando entramos na vertente micro da análise, a situação não se afigura muito melhor. Os casos BPN, BPP, BCP, REN vieram para ficar, com suspeitas de fraude, evasão fiscal, branqueamento de capitais, lavagem de dinheiro, corrupção acitva e passiva. Urge moralizar e alterar a configuração da governação das empresas Nacionais, atribuindo maior peso a administradores realmente independentes do poder executivo das empresas e dotar os órgãos de supervisão internos (Conselhos de Supervisão das Empresas) e externos (CMVM, Banco de Portugal, Instituto de Seguros de Portugal, Auditores, etc.) de meios reais de controlo e denúncia de situações menos claras. E claro, dava jeito que a Justiça funcionasse verdadeiramente em Portugal...


No que diz respeito aos negócios mais badalados do ano de 2009 (e refiro-me a fusões, aquisições, entrada de novos players no mercado Nacional), destaque para a penetração efectiva da Endesa e Iberdrola no mercado liberalizado de distribuição de electricidade, atingindo quotas de mercado na ordem dos, respectivamente, 16% e 15%. A Galp, associada ao Morgan Stanley Investments Fund, adquiriu por 800 milhões de euros uma parte da rede de distribuição e comercialização que o Grupo Gás Natural detinha na região de Madrid, ao passo que a Emparque comprou, por 451 milhões de euros, a Cintra Aparcamientos em Espanha, uma empresa com o triplo da dimensão (!!). Ao cair do pano, surge a notícia da aquisição de 10% da Zon por parte da empresária angolana Isabel dos Santos, colocando cada vez mais a tónica no carácter especulativo e financeiros das participações angolanas em empresas Nacionais, ao invés de criarem estruturas de raiz (vide caso da Embraer, por exemplo).


MUNDO


Os últimos meses de 2009 trouxeram duas surpresas menos agradáveis, nomeadamente o fantasma do incumprimento de dívida por parte do Dubai e a revisão para mais do dobro do défice orçamental por parte da Grécia. Um caso e outro devem servir para reflexão pois Portugal arrisca-se, no curto-médio prazo, a cair numa situação idêntica, caso não haja uma inflexão do que tem sido uma política fiscal e orçamental completamente desajustada da realidade.


Por outro lado, nunca como em 2009 se discutiu a adequação e justeza dos bónus dos banqueiros um pouco por todo o Mundo. Houve diversas tentativas de moralização, a mais importante e relevante das quais a que partiu da Casa Branca em relação às instituições financeiras apoiadas pelo Governo Norte-Americano, a que se seguiram algumas medidas levadas a cabo por Gordon Brown e Sarkozy ao nível da tributação pesada sobre os prémios auferidos pelas Administrações.


E claro, como não podia deixar de ser, vale a pena fazer uma referência à cada vez maior dependência dos EUA em relação à China, nomeadamente no que ao financiamento do défice externo diz respeito. Não é, aliás, por acaso que o denominado G2 ganha cada vez maior peso na cena internacional, em detrimento do "old-fashioned" G7+1. Desconfio que daqui a 5-10 anos estaremos a falar de um Mundo verdadeiramente multipolar e sem a supremacia clara de uma nação, contrariamente ao que tem sucedido de há diversas décadas a esta parte.

P.S: Bom ano de 2010 para todos!