domingo, 13 de setembro de 2009

Eleições Legislativas - balanço dos debates


Depois de ontem ter terminado a ronda de debates entre os candidatos dos 5 partidos políticos mais representativos da realidade Portuguesa, é hora de fazer um breve balanço dos mesmos e tentar perceber quais as consequências para os resultados eleitorais.

O primeiro ponto que vale a pena salientar é o de que, na minha opinião, estes debates serviram apenas para influenciar cerca de 10-15% do eleitorado, visto os restantes eleitores terem já delineado há muito tempo qual a sua intenção de voto. E dentro dessa pequena parte da população ainda indecisa, podem enunciar-se quais os duelos que estavam (e estão) em causa:

PSD/CDS-PP: existe uma franja da população que se situa no designado centro-direita que ora vota CDS ora vota PSD, muito em função da urgência e importância do voto útil em cada uma das eleiçõs . Ora, desse ponto de vista, Paulo Portas esteve claramente melhor que Manuela Ferreira Leite no debate entre os dois, revelando melhor preparação (em termos de domínios de dossiers), um discurso mais escorreiro, rectilíneo e objectivo e maior determinação. MFL esteve particularmente mal neste debate, tendo por vezes deixado a sensação de que estava meia perdida no meio do mesmo. Resta saber em que medida, e uma vez estando perante o boletim de voto, muitas das pessoas que estão inclinadas a votar CDS-PP não "fecham os olhos" e acabam por colocar a cruz no quadrado laranja.


PS/BE: sem dúvida que José Sócrates precisava a todo o custo que uma % razoável de votantes que estivessem inclinadas a votar BE mudassem o sentido de voto e, com isso em mente, o PS apostou todas as "fichas" neste debate. E com muito sucesso, diga-se! Fiquei surpreendido pela forma como Francisco Louçã, a partir de certa altura do debate, ficou claramente afectado com os ataques cirúrgicos desferidos por Sócrates, nunca mais se recompondo desse impacto. Pode dizer-se que, de certa forma, caiu a "máscara" ao Bloco de Esquerda, como Sócrates teve o mérito de salientar, ao defender medidas como a abolição por completo dos Planos de Poupança Reforma e do final das deduções em sede fiscal das despesas de saúde e educação. O programa eleitoral do Bloco de Esquerda nunca tinha sido escrutinado anteriormente desta forma e a verdade é que para um eleitor urbano da classe média os argumentos acima referidos vão pesar seguramente.

PSD/PS: contrariamente a muitas das opiniões expressadas pelos comentadores políticos no seguimento deste debate, penso que assistimos um empate. E passo a justificar: estes debates servem, sobretudo, para esclarecer os cidadãos de quais as políticas que cada candidato defende e tentar consolidar a sua base eleitoral e, idealmente, aumentá-la. Ora, penso que na troca de argumentos entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates nenhum deles teve a capacidade de entrar no terreno adversário e ganhar aí eleitorado, tendo apenas consolidado a opinião das pessoas que já estavam inclinadas por cada um dos candidatos.

Indo a pequenos pormenores, chamo a atenção para alguns factos:
  • José Sócrates passou todos os debates a atacar os outros candidatos, e deve ter passado 70%-80% do tempo a ler os programas dos outros partidos e a apresentar recortes de jornais preparados pelos seus assessores com frases e contradições dos adversários. Muito pouco para alguém que governou o nosso País nos últimos 4 anos e meio e que deveria ter uma atitude mais positiva;
  • Manuela Ferreira Leite não está vocacionada para a comunicação, é um facto. Além de ter cometido algumas gaffes (umas mais graves que outras), por vezes parece não ter rapidez de racionício para contra-atacar no momento. Porém, tem uma grande qualidade: é uma pessoa genuina, pura e que transmite para fora aquilo que realmente pensa. Nos tempos actuais, pode ser uma grande virtude;
  • Paulo Portas foi claramente o líder político que mais brilhou, mostrando um grande "à vontade" em diversos temas, sempre com uma retórica muito clara e objectiva e conseguindo tornar clara a diferença de ideias e opiniões face a PS e PSD. O único problema que enfrenta, neste momento, é saber até que ponto é que muito do seu eleitorado não irá votar PSD, numa lógica de voto útil;
  • Jerónimo de Sousa, um pouco à imagem de Manuela Ferreira Leite, é um político atípico pois não domina o dom da oratória e, no caso concreto do PCP, desafia a tradição, pois é uma figura afável e simpática. Sabe que conta com 7-8% de eleitores fixos, aos quais de podem juntar mais 2-3% de descontentes do PS da ala mais esquerdista;
  • Francisco Louçã foi, para mim, o grande perdedor dos debates. As expectativas eram bastante elevadas (e nestas coisas, quanto mais alto se está, de mais alto se cai) e a verdade é que, pela primeira vez, vê serem discutidas a sério e publicamente as medidas que propõe para o País, algumas delas completamente aberrantes (nacionalização integral da banca, seguros e energia?), outras completo suicídio político (acabar com PPR e deduções fiscais na saúde e educação).
Faltam 15 dias para as eleições legislativas...