quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tradição e Modernidade


«Vivemos comprometidos numa sociedade em demanda eterna pela modernidade, originalidade, tecnologia e inovação. O mundo do vinho, apesar de conservador por natureza, não escapa a esta verdadeira fúria pela novidade, à pressão de apresentar causas novas, à obrigação de renovar e variar ininterruptamente. Sim, é certo que a inovação é o motor do desenvolvimento, estimulante do progresso, condição fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Porém, ao assentar exclusivamente na promoção dos valores do modernismo, o discurso contemporâneo esvazia o espaço natural dos valores da tradição, valores intrínsecos e naturais ao cosmo do vinho. Goste-se ou não, a tradição tem lugar cativo no universo do vinho. A tradição pode mesmo ser instigadora de vinhos extraordinários, de vinhos singulares que o modernismo não pode, nem quer, repetir. Quando à tradição se alia o tempero certo de modernidade, quando o progresso entende os valores da memória, então conquistamos o raro privilégio de poder desfrutar de vinhos de rara beleza, personalidade e complexidade.»

Rui Falcão, parte de um artigo publicado no suplemento “Fugas”, do jornal Público de 23 de Maio de 2009.