quarta-feira, 7 de maio de 2008

Outro Tempo, Outro Espaço


Os Goeses de Bombaim em 1856

«No meio do nosso abatimento como nação, principalmente na Índia, é espectáculo consolador ver como se conserva vivo, no coração de toda esta gente, o espírito da nacionalidade portuguesa. A maior parte destas famílias, que tanto se prezam do nome português, tem residência fixa em Bombaim, seus membros são cidadãos ingleses, empregados até do governo inglês; e contudo portugueses se chamam, portugueses são de coração, português falam, português escrevem; chamam seu rei a El-Rei de Portugal, cujo retrato, e o da Rainha D. Maria II, se vê em todas as suas casas, acompanhados dos homens mais notáveis de Portugal na época presente. Nó lá na Europa não fazemos ideia do que vale ainda aqui o nome português. É necessário vir à Índia, e especialmente à Índia Inglesa, para criar certo orgulho de ter nascido português. Parece que o domínio britânico, que aliás tem introduzido na Índia todas as vantagens da mais culta civilização da Europa, parece digo que o domínio britânico tem feito radicar no coração destes homens a afeição e amor por esse Portugal, que nada lhes dá, nem pode dar, e donde nada têm a esperar. Em Bombaím há sempre um ou mais jornais escritos em português; há associações e institutos para a educação dos portugueses, sendo um dos primeiros cuidados destes institutos o ensino da língua portuguesa. Em Bombaim se imprimem ou reimprimem quantidade de livros portugueses; e quem falar da língua pode estar certo de achar quem o entenda em todas as ruas desta populosa cidade.»

Cunha Rivara, De Lisboa a Goa, 1856.

(Bombaim foi dado à Inglaterra em 1655)