quinta-feira, 27 de março de 2008

D. João de Castro

Carta que D. João de Castro (1500-1548) escreveu de Diu à cidade de Goa, em 23 de Novembro de 1546.

(2ª Parte)

…«os quaes vos prometto como Cavalleiro, e vos faço juramento dos Santos Evangelhos de volos mandar pagar antes de hum anno, posto que tenha, e me venhão de novo outras oppressoens, e necessidades mayores, que das que ao presente estou cercado. Eu mandey desenterrar D. Fernando meo filho, que os Mouros matarão nesta fortaleza, peleijando por serviço de Deos, e de ElRey nosso Senhor, para vos mandar empenhar os seus ossos; mas acharão-no de tal maneira, que não foy licito inda agora de o tirar da terra; pelo que me não ficou outro penhor, salvo as minhas proprias barbas, que vos aqui mando por Diogo Rodrigues de Azevedo; porque como já deveis ter sabido, eu não possuo ouro, nem prata, nem móvel, nem cousa alguma de raiz, por onde vos possa segurar vossas fazendas, somente huma verdade secca, e breve, que me nosso Senhor deu.



Mas para que tenhais por mais certo vosso pagamento, e não pareça a algumas pessoas, que por alguma maneira podem ficar sem elle, como outras vezes acconteceo, vos mando aqui huma provisão para o Thesoureiro de Goa, para que dos rendimentos dos cavalos vos va pagando, entregando toda a quantia que forem rendendo, até serdes pagos. E o modo que neste pagamento se deve ter, o ordenareis lá com elle. Hey por escusado de vos affeitar palavras, para vos encarecer mais os trabalhos em que fico, porque tenho por muito certo, por todos os respeitos, que acima digo, haverdes de fazer nesta parte tudo, e mais do que puderdes, sem entrever para isso outra cousa, salvo vossas virtudes costumadas, e o amor, que todos me tendes, e vos tenho. Encomendo-me, senhores, em vossas mercês. De Diu a vinte e três de Novembro de mil quinhentos e quarenta e seis.»