terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Efeitos do subprime exagerados?


É claro que os efeitos despoletados por esta crise são para levar a sério e reflectir. Dão que pensar sobretudo à banca americana, que flexibilizou a possibilidade de crédito a muita gente que não o podia pagar, e assumiu que os preços das habitações se manteriam constantes ou mesmo num plano ascendente. E emprestaram, assumindo que essa era a tendência. Dão que pensar aos bancos de investimento, que acreditou nos retornos desses créditos à habitação e os inseriu nos portfolios de investimento das suas carteiras. Os empréstimos não foram pagos por muita gente e, num efeito dominó, alguns investidores retiraram o parte do dinheiro investido nos fundos de investimento e as acções dos bancos reflectiram a queda de lucros apresentados pelos próprios.

Por outro lado, o preço do dinheiro, impulsionado pela subida das commodities e pelo risco de dívida, subiu. O Banco Central Europeu, seguindo à risca o plano de estabilidade de preços, aumentou as taxas de juro. Em reacção, as taxas de juro interbancárias também subiram e os bancos começaram a ter problemas de liquidez. Resumidamente, estes foram os efeitos imediatos da crise.

Por outro lado, temos a "real economy". A tal economia mundial que registou o maior crescimento de sempre em 2007 (4,8%). Esta imagem dá que pensar, visto que grande parte desse crescimento se deve a países como o Brasil, Índia, China, Rússia, Coreia do Sul, Tailândia, Malásia, Singapura, Hong Kong e o eixo Dubai/Qatar/Bahrain. Poderia referir outros, mas estes resumem bem a transferência de rendimentos da economia mundial. Estamos perante um movimento de transferência de riqueza nunca antes visto na economia mundial. E um óptimo sinal disso são os recentes investimentos de sovereign funds em bancos de investimento de renome americanos e europeus. Igualmente, e não nos esquecemos disso, a zona euro e os EUA cresceram cerca de 3% em 2007. Desde quando é que um crescimento de 3% em economias desenvolvidas é mau? Os bancos apresentavam, antes da crise subprime, lucros recorde. Em média, as empresas europeias e americanas, nos sectores em estagnação ou crescimento, apresentaram rendimentos muito saudáveis e consistentes. A especulação bolsista reflectiu as boas prestações e elevou o preço das acções a níveis altíssimos, principalmente nas bolsas asiáticas. E precisamente na Ásia, alguém dúvida que Rússia, Índia e China não vão crescer a médio-prazo (2/3 anos) ao ritmo de 2007, apenas porque a economia americana está em vias de recessão?

Deste modo, acho que o peso que se está a dar a esta crise parece-me exagerado. Se as bolsas europeias atingiram mínimos do início de 2007, as bolsas asiáticas atingem mínimos de 3 a 6 meses. Não se chamaria a esta movimentação de preços uma correcção natural à especulação possivelmente exagerada dos anos de 2006 e 2007? Eu acho que sim. Que se está a extrapolar uma crise. As movimentações dos preços das acções explicam-se, numa fracção considerável, pela transacção de informação. E esse método leva, naturalmente, a especulações de todo o tipo. Se a especulação tem tido mais impacto na capitalização bolsista que a "real economy", essa é uma discussão que já vem dos anos 20 do século XX. No entanto, com a melhoria dos mecanismos de resposta às crises financeiras por parte dos bancos centrais e do mercado, os efeitos especulativos e de correcção bolsista são cada vez mais controláveis, e de menor amplitude.

Quando se fala de Portugal, aí a questão muda radicalmente de figura, como tenho dito sempre no "Vantagem Comparativa". Aqui o diagnóstico é claro: falta de competitividade.