quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Rússia imperial



A Rússia imperial voltou. Os militares russos e Putin, "resolvidas" as divergências em casa, mostram ao mundo como se faz na Rússia. Sem pudores, sem ameaças, sem cinismo, sem lógica, sem perguntas. A Rússia acha-se no direito de fazer o que quer sem prestar contas a ninguém. E, de facto, tem poder para isso. Legitimidade, já não tem. Não tem porque estas manobras militares no mediterrâneo servem apenas para intimidar. O mar mediterrâneo não é especialmente estratégico para a Rússia, neste momento, a não ser para se mostrar aos vizinhos europeus. Apenas e só.

A Rússia, longe de ser europeia, cada vez mais será um problema para os europeus. Mais do que todas as oportunidades de uma boa relação, a Rússia será sempre rival em tudo. Sobretudo, tendo a União Europeia uma política atlântica. E esta Rússia, na obrigação de se comportar como um império, raramente acatará as decisões da UE fora do seu domínio. Como se vê em relação ao tratamento diferenciado da Rússia face ao Irão e face à questão da independência do Kosovo.

A Europa tem de se tornar militarmente independente. Os respectivos orçamentos de defesa têm inevitavelmente de crescer uns pontos percentuais no total do bolo. A independência dos países da UE, mesmo actuando em nome da NATO, assim o exige. Uma política externa europeia apoiada por um forte exército certamente que teria outra voz no combate à ditadura da Bielorrússia, ou numa eventual operação extensa no Darfur (em oposição à posição chinesa e russa) ou numa de proposta de alargamento da UE à Ucrânia. A falta de postura europeia reflectiu-se na ausência de condenação das fraudulentas eleições russas, enquanto que Putin fala sem contraditório.

Contudo, parece-me que a Europa está longe desta realidade. A falta de matérias-primas próprias, facilmente exportáveis, como o gás natural, petróleo, ou mesmo carvão, não permite grandes aventuras. A dependência energética (exceptuando a França), é enorme. Os défices orçamentais não dão margem de escolha. A segurança dos EUA dá algum conforto.

Vêm aí tempos difíceis.