segunda-feira, 10 de setembro de 2007

América - A Turn to the Left? (II)



A revista "The Economist" tem dado algum relevo a esta questão: a mudança conjuntural na política americana. Todos sabem que os ciclos políticos têm uma duração mais ou menos declarada, mas na maioria dos casos "carregam" uma ideologia com eles que provoca mudança. E essa mudança pode ser sentida por muitas décadas. Da mesma forma que as tendências liberais que marcaram profundamente os EUA na década de 60 transformaram muitos dos usos e costumes da época, a vaga conservadora de George W. Bush mostrou que ainda muitos americanos se identificam com aqueles valores. O retrato da Economist é simples. Da mesma forma que as tendências fortemente liberais dos anos 60 conduziram às campanhas de ressurgimento do movimento político conservador americano promovidas por Barry Goldwater, e abriram caminho a uma série de vitórias dos republicanos, esta fase neo-conservadora de George Bush pode abrir caminho para uma nova vaga liberal. Tudo aponta neste sentido. O candidato republicano com melhores indicações de voto nas sondagens é Rudy Giuliani, que adopta uma visão liberal em temas como o aborto e o casamento gay. Enquanto que 40% dos republicanos acreditam que os democratas vencerão as próximas eleições, apenas 12% dos democratas aposta num vencedor republicano. Enquanto que 61% dos americanos que votam democrata está satisfeito com os seus candidatos, apenas 36% dos republicanos manifestam o mesmo em relação aos seus. As sondagens dão vantagens aos democratas na ordem dos 20 pontos percentuais, o que não se via desde o escândalo Watergate. Por outro lado, a base social conservadora que apoia os republicanos está a perder fulgor. A direita católica que serve como base de apoio ao partido republicano tem perdido capacidade de iniciativa (no norte e no sul) em temas fulcrais como o aborto e o casamento gay. Na faixa etária entre os 18 e os 25 anos, o partido republicano tinha 55% de potenciais votantes em 1991, em 2006 tem 35%. Em relação aos hispânicos, o discurso anti-imigração pode ter custado aos republicanos uma camada de votos por uma geração. Nas eleições para a Câmara dos Representantes em 2006, cerca de 70% dos hispânicos votaram democrata, contra cerca de 55% em 2004.

Alguns conservadores, como Newt Gingrich, afirmam que as (passadas e futuras) derrotas do partido republicano não devem ser imputadas ao movimento conservador mas sim ao partido. A governação de Bush tem sido desastrosa em alguns domínios. O falhanço das operações de salvamento após o furacão Katrina, a demissão de Rumsfeld, a questão de Guantánamo, a denúncia de Valerie Plame por parte de Lewis "Scooter" Libby, os fundamentos errados da guerra do Iraque, a vontade de proibir a investigação através de células estaminais, as suspeições que recaiem sobre o ex-procurador geral Alberto Gonzales, e muitas outras questões, são exemplos de incompetência absoluta e extremismo da administração Bush. E a baixíssima popularidade de Bush já não se via num presidente americano desde Jimmy Carter.

Três indicadores essenciais são um reflexo dos tempos. Os americanos mostram-se mais favoráveis a um governo que se preocupa com o bem-estar geral, cada vez menos acreditam que o poder militar conduz a uma pacificação e desafiam com maior intensidade a existência de Deus. Estamos perante uma nova tendência liberal. Na minha opinião, os maiores protagonistas deste debate vão ser Rudy Giuliani e Barack Obama, que, acredito, serão os candidatos para 2008.