segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O mundo dos clichés

Tenho pena de um mundo que segue modas e prefira a aparência à substância, o insulto livre à inteligência. Quando vejo um comediante inglês dedicar a sua peça à malediciência gratuita e ignorante, sem se ver ao espelho e perceber que não passa de um cómico de garagem que manda as atoardas que mais de 1 milhão de "artistas" já tinham feito, sinto-me revoltado. Afirmar nos EUA que George W. Bush é um "cowboy atrasado mental" deve fazê-los pensar que obtêm a graçola fácil e o reconhecimento imediato, mas apenas são desagradáveis para um país que lhes dá voz, palco, e é muito favorável à crítica (construtiva) vinda da Europa.

O elogio a Obama é comum em várias frentes. Um candidato que recebe elogios de Putin, do Bloco de Esquerda, de fervorosos pastores religiosos americanos, tem de considerar que a política não pode nem deve agradar a todos. O discurso de esperança deve dar lugar ao reconhecimento de que não vêm tempos fáceis e reformas difíceis são necessárias. Deve ter em conta que os "ajustamentos fiscais" que promete estão altamente condicionados pelo elevadíssimo défice orçamental em muito impulsionado pela guerra do Iraque. Deve ter a noção de que a guerra do Iraque só é ganha à custa de medidas impopulares e de enfrentar quem não quer um mundo livre.

A boa governação é, por natureza, impopular. A correcção de injustiças implica, muitas vezes, tirar a uns e dar a outros. Os efeitos são, maioritariamente, a longo-prazo. E o reconhecimento também.

Entretanto, vemos uns desgraçados comediantes de garagem, que preferem o insulto arrogante e básico, sem terem a noção de que estão a faltar ao respeito aos soldados americanos que estão no Iraque, e a um povo que, quer queiramos quer não, fez renascer uma Europa livre e justa.