terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Balanço 2007 (II)

Neste balanço de 2007, pretendo dar a conhecer aquilo que se passou de bom e de mau no nosso país e no mundo. Não se trata necessariamente de enunciar o que foi mais importante. Trata-se sim de dar a minha opinião acerca do que eu achei relevante afirmar, como positivo ou negativo, seja importante para outros ou não.

O pior de 2007:

- No Paquistão, o local mais perigoso do mundo como refere a "The Economist", foi morta Benazir Bhutto. Com ela foi a esperança de termos um Paquistão democrático, civilizado e secular. Digo esperança, porque certezas nesta região não há. Temos sim a garantia que lutamos contra um inimigo irracional e sem rosto, capaz de matar indiscriminadamente.

- A reorganização da al Qaeda no Magrebe, às portas da Europa. Desde o tempo das cruzadas que a Europa não tinha um inimigo tão organizado e declaradamente anti-Ocidental tão perto. Por enquanto sofrem os argelinos e os marroquinos. Depois, podemos ser nós. Chegou para cancelar o Lisboa-Dakar. Não podemos ceder ao terrorismo desta forma.

- A crise do Subprime. Por um lado, a melhoria dos mecanismos de ajustamento financeiro dos mercados e dos bancos centrais e a maior independência destes face ao poder político garantem-nos alguma segurança na resposta às crises financeiras. Por outro lado, a complexidade e a interligação de instrumentos financeiros, mesmo os de baixo risco, trazem-nos muitas dúvidas sobre os ratings dados e sobre o nível de diversificação desses activos. Investir em retornos de dívidas do mercado de hipotecas americano, considerados (pela banca comercial e de investimento) como investimentos de baixo risco, atingiu tanto a banca comercial como a financeira de uma forma tal que os bancos centrais europeu e americano tiveram de injectar dinheiro (biliões) no sistema. Em Inglaterra, quase faliu o Northern Rock.

- O preço de petróleo bate os 100 dólares. O problema não é esse. Não tarda está nos 200. Era altura, sem tabus, de relançar o debate da energia nuclear em Portugal. Veja-se o caso da França, que até fornece energia à Alemanha e Reino Unido.

- Temos escalada no preço das matérias-primas alimentícias. Nunca visto, depois da II Guerra Mundial.

- Em África, subsistem problemas de rivalidades étnicas inultrapassáveis que levam a massacres de populações (Quénia,Congo e Sudão), genocídio abertamente patrocinado pelo governo (Sudão), propagação de correntes islâmicas radicais (Somália), eleições forjadas (Quénia, República da Guiné), governos ditatoriais ineptos, corruptos e selvagens (Zimbabwe, República Centro africana). Aqui, não há esperança sequer.

- No Médio Oriente, subsistem situações que devem alertar ao máximo o mundo Ocidental. No Líbano mantém-se o assassinato silencioso de políticos da minoria cristã (e por vezes sunita), patrocinado abertamente pela Síria e pelo Hezbollah. Israel deveria ter deixado o trabalho pronto na guerra de 2006.

- No Afeganistão, a NATO vive tempos difíceis. É de facto uma missão que requer muito anos. Eliminar os talibans é a palavra de ordem. Mas também é reconstruir escolas, estradas, esgotos, e muitas outras infraestruturas. E terminar com o cultivo de heroína. Nem que seja pela contaminação desses terrenos. Mas não há interesse nisso...

- Portugal devia ter mantido as suas tropas no Afeganistão. É uma pequena contribuição para uma luta que é de todo o mundo ocidental.

- A cimeira de Annapolis tentou relançar o processo de paz israelo-palestiniano. Alguém acredita na resolução deste conflito, nos moldes actuais?

- O partido de Vladimir Putin volta a vencer eleições na Rússia, tudo indica forjadas. Está mais que provado que a Rússia não consegue viver sem um regime autoritário. É histórico.

- A comunicação social portuguesa, ignorante, não referiu o mais importante da cimeira UE-África. O falhanço da renovação dos acordos comerciais entre os dois continentes. Os jornalistas passaram o tempo todo a dizer que a cimeira foi um sucesso. Mas não foi.

- Em Portugal, a taxa de desemprego atingiu os 8,4%, a maior dos últimos 20 anos. É triste ouvir o discurso optimista de Sócrates, em contraste com a dura realidade do dia-a-dia de muitos portugueses. O país, progressivamente, empobrece. E as perspectivas não são nada boas.
Será que daqui a 10 anos estaremos a falar de uma taxa de desemprego de 16%?

- Mário Lino será recordado, garantidamente. Um ministro arrogante, teimoso, displicente e incompetente. Só Sócrates não vê. Mário Lino prendeu-se à solução do aeroporto da OTA. Cai a OTA, cai o ministro. Mário Lino não lê os estudos publicados por instituições importantes, pelo menos admite. Mário Lino recusa-se a ouvir o país, as suas instituições e o Presidente da República. Para terminar em beleza, pode não divulgar o estudo do LNEC ao país. Que eu saiba, uma decisão sobre um aeroporto mais do que constituir uma decisão política, tem de assentar em aspectos técnicos. Ministros destes, jamais!

- Onde estão as reformas na justiça prometidas pelo ministro Alberto Costa e enquadradas no "pacto de regime" PS-PSD. O problema da justiça é prioritário.

- Onde estão as reformas estruturais na educação prometidas pela ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Nomeadamente, a questão da autonomia das escolas. Os professores continuam sem poder para exercer o mínimo de autoridade. Até quando?

- O ano de 2007 ficou marcado pela desconfiança crescente face a duas instituições que têm o dever de independência e isenção máxima na regulação do mercado. O Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Os polícias do mercado, ou não viram o que se passou, ou fecharam os olhos às ilegalidades. No caso do BCP, estas instituições não conseguiram (?) detectar as diversas contas off-shore utilizadas para recompra de acções. Viemos a saber através de denúncia, não de fiscalização.

- A OPA falhada da Sonae sobre a PT revelou um país proteccionista. Da mesma forma, confirmou o peso excessivo do estado em alguns sectores. Todo o processo demorou mais de um ano, conduzido pela Autoridade da Concorrência. Com este nível de burocracia, podem as empresas ser competitivas (e o mercado)?

- O número de falências em 2007 foi o mais alto da última década (aprox. 4000). Não é de espantar, num período de reestruturação económica. É uma evidência.

- O caso caricato da licenciatura de Sócrates. Na minha opinião, não quero saber se Sócrates tem licenciatura ou não. Quero sim saber se foi transaccionada e a troco de quê. Aprende-se cedo, neste país.

- O caso Maddie, Esmeralda, como tantos outros, mostrou acima de tudo uma comunicação social sedenta por audiência e pela notícia do momento. Vimos muitos flash interviews, entrevistas a "populares", directos televisivos inúteis e mentiras para mais tarde recordar.

- A comunicação social generalista manteve o nivelamento por baixo. Uma grelha de programas que roça a iliteracia e o ridículo. Aliás, o grotesco (Ex: José Castelo Branco) tornou-se motivo de audiência. A mentira (Fiel ou infiel) convence telespectadores. Até a estupidez (Bela e o Mestre) colou muita gente à TV.

- Os assassinatos de seguranças no Porto foi coisa nunca vista. Podemos facilmente associar este ambiente de bairro (Ribeira entre outros) a uma situação de aparente impunidade e conformismo que envolve magistrados, polícias, clubes de futebol, associações, seguranças, empresários e gerentes de espaços de diversão nocturna. Faz muito bem Rui Rio em denunciar estas cumplicidades. Foi assim que o PS deixou o Porto. Com vícios dificilmente reparáveis.

- Estou aberto a novas sugestões, para o que se passou de negativo em 2007.

(em actualização)