segunda-feira, 6 de agosto de 2007

O Algarve das tendências sociais

A silly season está aí e em força. Desta feita , para um estudo sociológico interessante, o Algarve é a melhor região e Agosto o melhor mês para uma análise de Portugal. Tal e qual como o país é. Socialmente, o Algarve é uma manta de retalhos. Passo a explicar:

Quarteira, Armação de Pêra, Manta Rota, Monte Gordo, Praia da Rocha - Os locais por excelência da classe média baixa portuguesa (e inglesa), pouco endinheirada, que conta os tostões para uma semaninha de paraíso num hotel de duas ou três estrelas, por vezes com algumas modernices do género jacuzzi, banho turco, mas, sobretudo, hotéis apenas para encher quartos e fazer dinheiro. Os portugueses que sonham todos os anos com estes dias, fartos dos empregos chatos, das filas de trânsito, dos transportes públicos, mas que se contentam em ler a Nova Gente e a Caras (progressão social?), em ver o último reality show, em gastar os trocos que restam com a ilusão de que estão no centro do mundo. Estes ainda são os que podem passar férias no Algarve, pois restam muitos que nem sequer podem.

Quinta do Lago, Vale do Lobo, Vilamoura - O Algarve cada vez menos dos ricos, cada vez mais dos novos ricos. O Algarve do show-off. Dos colunáveis. Do social. Da festa em festa. Aquele em que uma multidão de portuenses e lisboetas (essencialmente) não podem perder a 1ªsemana de Agosto. É mais que religioso. Quem não aparece nesta altura não está na moda. Está fora da tendência, do status-quo. Na noite mais jovem, o Sasha beach e o Nikki beach para uns, o Klube e a Trigonometria para outros. Para os mais velhos, o Ye ye no T-Clube e as festas do Sheraton Pine Cliffs (comer à borla é sempre bom..) ou do Lake Resort. As pessoas, sempre, mas sempre, as mesmas. Encurraladas nas mesmas praias, Ancão e Gigi. Always. É mais importante essa semana no Algarve do que aproveitar para conhecer o mundo, isto para muito boa gente.

Depois há diversos sítios do Algarve onde cada vez mais vale a pena estar, pois não estão na moda e preservam algum apuro estético. É o caso da região de Tavira, algumas praias perto de Sagres, Lagos, Alvor, Carvoeiro, ilha da Culatra (por exemplo). E é sobretudo nestes locais que se sente a existência de um Algarve dos algarvios, com vida própria para além do turismo.

Mais para o interior, vale a pena ver Silves e Monchique.

Cada vez mais acho que quem é realmente independente, distinto e alternativo, foge da tendência, do Algarve fashion. Sobretudo, utiliza a silly season para conhecer mais e melhor, tornar-se mais cosmopolita. E entre gastar 2000 euros numa semana em Vale do Lobo e numa viagem à China, não pensa duas vezes sequer.