domingo, 29 de julho de 2007

Retoma económica? Subsistem muitas dúvidas...

Pretendo analisar as constantes declarações de anúncio da retoma económica por parte de José Sócrates e Manuel Pinho e com isso, espero demonstrar que a retoma ainda não se verifica de facto, que não é estrutural, mas sim uma melhoria ligeira provocada pela boa conjuntura europeia e pelas exportações.


Investimento:

No ano de 2007, há sinais positivos do investimento empresarial (privado), valores que já não se verificavam há sete anos, e que se pode constituir como uma alavanca importante para o crescimento económico. Contudo, falta contar o resto da história...




No investimento total, verifica-se uma tendência negativa conjuntural que dura há vários anos, em grande parte responsabilidade da redução do investimento público e do sector da construção. Em 2007, esta tendência parece continuar. No 1ºtrimestre de 2007, a Formação Bruta de Capital Fixo teve uma variação homóloga negativa de 1,8%.


Apesar do crescimento do investimento empresarial de 1,3% em 2006 (já de si um valor baixo), a variação real do investimento total foi negativa em 3,7% em 2006. O mau desempenho do sector da construção civil é um dos motivos principais para as quedas sucessivas do investimento.

Comércio Externo:

No primeiro trimestre 2007, as exportações e as importações registaram variações homólogas positivas de 8,1% e 1,9%. A variação homóloga do défice da Balança Comercial (de Janeiro a Abril) foi de -11,8%. A taxa de cobertura das importações pelas exportações (de Janeiro a Abril) passou de 63,5% para 68,8%, variação homóloga. Estas melhorias não tiram o fardo de sermos o quinto país do mundo com pior saldo percentual da Balança de Transacções Correntes, perto dos 10% (valores médios de 2000 a 2006).


É de salientar a variação das exportações como potenciador do crescimento económico. Contudo, os custos unitários do trabalho em Portugal tiveram uma evolução preocupante nos últimos anos, e pior que em muitos concorrentes europeus.



Na constituição das exportações, destaca-se o aumento de 19% do grupo "Material de Transporte e acessórios" (ex: automóveis, peças e acessórios de bens de transporte) e 20,6% do grupo "Máquinas e outros bens de capital" (ex: máquinas, peças e acessórios para máquinas, excepto máquinas de transporte), e 13,9% na categoria "Fornecimentos Industriais" (produtos primários e transformados). Se excluirmos o grupo dos Combustíveis e Lubrificantes, as exportações homólogas registaram variações muito maiores que os 8,1% verificados.

Desemprego:

A taxa de desemprego estimada para o primeiro trimestre de 2007 foi de 8,4%. Este valor é superior em 0,7 pontos percentuais em relação ao valor homólogo verificado em 2006, e ao observado no trimestre anterior, em 0,2 pontos percentuais. Esta taxa de desemprego é a maior dos últimos 20 anos, mas também é um sinal de que o sector produtivo português se está a ajustar estruturalmente.

Contas públicas:

A receita fiscal do estado registou um crescimento homólogo de 8,6% no 1ºsemestre do ano de 2007. No entanto, a despesa pública corrente primária do Estado teve uma variação homóloga positiva de 3,8% no 1º semestre deste ano. O objectivo inscrito no Plano de Estabilidade e Crescimento de baixar este valor em 2009 para 37% do PIB, cada vez mais se afasta, pois a tendência de há muitos anos é de crescimento da despesa corrente primária, que registou 37,1% do PIB em 2002 e 40,6% em 2005. As remunerações certas e permanentes do pessoal tiveram variações negativas de 1,9%, enquanto que as transferências correntes das administrações públicas e entidades fora do sector aumentaram 3,9% e 3,7% no 1ºsemestre de 2007, comparado com o período homólogo do ano anterior. Os valores positivos das variações nas remunerações deve-se sobretudo ao congelamento salarial na função pública.

As despesas com os juros da dívida pública registaram uma variação homóloga de 9%.

A redução do défice do Estado de 3631,2M€ no primeiro semestre de 2006 para 2708,2M€ no período homólogo de 2007, deve-se essencialmente ao crescimento das receitas fiscais.


Produto Interno Bruto:

No primeiro trimestre de 2007, o PIB cresceu 2,0% em volume face ao período homólogo. O crescimento do PIB deve-se essencialmente ao aumento da procura externa líquida, assente sobretudo nas exportações de bens e serviços, face à procura interna (despesas privadas de consumo, despesas das administrações públicas e investimento).


O crescimento de 2,0% do PIB português no 1ºtrimestre de 2007, mantém-se claramente abaixo dos 3,1% da zona Euro, no mesmo período. Continuamos a divergir do crescimento da média da UE-27 em 1,3 pontos percentuais no triénio 2005-2007, superior aos 1,2% verificados no triénio 2002-2004.

Sr. Manuel Pinho, olhe para os factos, e não nos mande tretas (mentiras, no sentido literal da palavra) para cima...