quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Análise do terrorismo muçulmano no Reino Unido

O Reino Unido é um dos principais países europeus, com um passado imperial de enorme relevo, cujo domínio se estendeu do continente americano até à Índia, do Egipto à África do Sul, da Austrália ao Paquistão. O enorme império inglês, um caldo de culturas, costumes e religiões, foi provavelmente o império que teve maior importância na difusão de valores e práticas do mundo Ocidental tanto em regiões remotas como em civilizações antigas com raízes e credos profundos, como é o caso da Índia e do Egipto. O passado imperial trouxe ao Reino Unido grande experiência de multiculturalismo e de conhecimento de outros povos, ao mesmo tempo que impôs maiores responsabilidades no relacionamento com as diferentes comunidades. Actualmente, as principais comunidades imigrantes do Reino Unido, como é o caso dos hindus e dos muçulmanos, são um espelho do império britânico.

A questão do terrorismo no Reino Unido está intimamente ligada à expansão colonial inglesa, tendo em conta o tipo de comunidades que se instalaram nos últimos 30 anos no país. A percentagem de muçulmanos no país é de 2,7% do total populacional, ou seja, cerca de 1.600.000. A maioria destes muçulmanos tem a sua origem nas tribos pashtun do Paquistão, do Bangladesh e da Índia. E nestes últimos anos tem-se verificado e comprovado que o terrorismo de tipo religioso e político no Reino Unido se associa especialmente à comunidade muçulmana e, de uma forma especial, a estes imigrantes do eixo Paquistão/Afeganistão/Bangladesh.

Contudo, o terrorismo não é novidade recente no Reino Unido, tendo em conta que nas últimas décadas o país teve que lidar com o IRA. No entanto, o IRA praticava um terrorismo de tipo laico-político e com objectivos bem definidos, mas sem uma grande componente religiosa e apocalíptica como é o caso do muçulmano. Esta nova forma de confrontação directa e relativamente desconhecida tem cada vez maior impacto no Reino Unido e é o objecto de estudo deste trabalho.


Factores de Ordem Social e Económica[1]

A questão do terrorismo no Reino Unido inclui necessariamente a análise da integração socio-económica da comunidade muçulmana britânica. Regra geral, esta integração não é bem sucedida, com foco na 2ª geração de imigrantes. Os factores são muitos e variados, as culpas repartidas.

As duas maiores comunidades muçulmanas, de origem paquistanesa e do Bangladesh, que constituem 22% do total dos 4.700.000 imigrantes, revelam baixos índices de integração. O nível de desemprego masculino é de 13% entre a comunidade do Bangladesh, e 11% entre a paquistanesa, muito acima dos 4,5% dos ingleses caucasianos. Mais de 40% dos jovens muçulmanos do Bangladesh são desempregados, em comparação com 12% dos jovens caucasianos. Cerca de 40-45% dos estudantes muçulmanos do Bangladesh e Paquistão têm aprovação escolar, comparada com 50% dos ingleses caucasianos, 65% dos indianos e 75% dos chineses. As estatísticas mostram que 68% das famílias paquistanesas e do Bangladesh vivem em situação de pobreza, sendo que a média nacional é de 23%; e 42% das crianças muçulmanas vivem em habitações sobre-acomodadas, comparado com 12,3% da média nacional. Não é pois de estranhar que, sendo apenas 2,7% da população, os muçulmanos britânicos constituem 9% dos presos no Reino Unido. Tendo em conta estes factores exclusivamente socio-económicos, sem fazer referência a culturais e religiosos, é possível concluir que a comunidade muçulmana no Reino Unido se encontra em situação desfavorável.

Para além destes factores, há na comunidade islâmica um sentimento de exclusão e rejeição social que tem vindo a aumentar, sobretudo desde os ataques bombistas em Londres de 7 de Julho. A principal organização muçulmana britânica, a Muslim Council of Britain (MCB), tem publicado em jornais e na Internet vários artigos que exprimem revolta contra o que se chama de “Islamofobia”, e que o próprio MCB chama de “tendência para descriminar e hostilizar todos os muçulmanos com base na associação do terrorismo com o Islão”. Por exemplo, o MCB revela que sob as novas leis anti-terrorismo, o número de abordagens policiais a asiáticos aumentou 302% em 2003 e associa este valor principalmente a muçulmanos. Destas pessoas abordadas, 13% foram presas e apenas 1% do total foram presas ao abrigo da nova lei anti-terrorista.

Os dados podem-nos sugerir que a falta de integração muçulmana se deve maioritariamente a questões socio-económicas. Na minha opinião, as questões culturais e religiosas têm uma importância maior para explicar a exclusão da comunidade muçulmana e, consequentemente, os fenómenos associados ao terrorismo.


Factores de Ordem Cultural e Religiosa

A questão cultural assume uma importância enorme no radicalismo religioso. Por um lado, a tradicional política inglesa de multiculturalismo tem permitido aos muçulmanos a aplicação e divulgação de costumes e ideais próprios sem grandes restrições. Esta política é radicalmente diferente do integracionismo francês, que procura a um nível estatal a integração dos imigrantes relativamente aos valores e costumes da cultura e do povo francês. Esta liberdade cultural no Reino Unido permitiu aos fundamentalistas muçulmanos a promoção de ideologias radicais com uma forte componente religiosa tanto nas mesquitas como nas madrassas, com relativa despreocupação e desconhecimento por parte das autoridades, pelo menos até ao 11 de Setembro de 2001. Por outro lado, os tipos de comunidades imigrantes muçulmanas no Reino Unido, essencialmente provenientes do Paquistão e Bangladesh, são religiosamente ortodoxos, e levam ao limite uma interpretação literal do Islão com base no Corão. Estes dois factores são importantes para analisar a ameaça terrorista no Reino Unido. A sharia[2], actualmente aplicada em países islâmicos como o Paquistão, o Sudão, o Irão ou até mesmo o Afeganistão, colhe grande apoio por parte dos muçulmanos britânicos que vêm com bons olhos a sua aplicação no Reino Unido. Onde a sharia é aplicada, não há separação entre estado e religião, e o poder judicial implementado pelos tribunais islâmicos interfere sobre domínios impensáveis de um ponto de vista ocidental. Exemplos práticos da aplicação da sharia são vistos um pouco por todo o mundo islâmico, desde a criminalização das mulheres por adultério e posterior condenação á morte na Somália ou no Bangladesh; a obrigatoriedade do uso do véu tanto na Arábia Saudita como no Paquistão; a limitação da liberdade de culto no Egipto ou mesmo na Turquia; e a proibição de produção musical considerada ofensiva aos princípios do Islão no Irão. Há mesmo fortes indícios de que a excisão feminina em comunidades imigrantes muçulmanas (da Nigéria por exemplo) é praticada na Europa.

No Reino Unido, com base em sondagens credíveis feitas a muçulmanos, 40% dos participantes aprovam que a sharia seja aplicada nas áreas de predominância muçulmana e 61% querem que tribunais islâmicos julguem as causas civis da comunidade. Para 55%, deveria ser proibido às escolas impedir que as alunas usem o hijab[3] e 88% revelam que as instituições de ensino e locais de trabalho devem adaptar-se à rotina das preces islâmicas.

O tratamento desigual das mulheres em relação aos homens como prática culturalmente enraizada do Islão é um bom exemplo da diferença entre tradições seculares laicas e as leis islâmicas. Contudo, é impensável a ideia de que estes princípios culturais do Islão podem ser aplicados em consonância com as leis e costumes ocidentais. O mais provável, tendo em conta que a aculturação ao Islão é elevada entre as comunidades muçulmanas, é que muitas práticas à luz da sharia mas clandestinas na Europa sejam impostas respeitando rígidas tradições familiares, de uma forma perfeitamente natural. O tratamento das mulheres no mundo islâmico é um dos factores decisivos para mostrar o nível e o tipo de confrontação entre as comunidades muçulmanas e o ocidente. Há cerca de dois meses, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Jack Straw em declarações públicas afirmou que o facto de as mulheres cobrirem as suas caras com um véu dificulta as relações entre comunidades. Estas declarações incendiaram os ânimos entre a comunidade muçulmana e suscitaram múltiplas reacções. Se, por um lado, o MCB se apressou a mostrar que compreende o desconforto de Jack Straw, por outro, a organização Islamic Forum Europe condenou as declarações e reafirmou que o uso do véu é uma prática islâmica consensual entre intelectuais islâmicos, não aceitando sequer qualquer discussão sobre o assunto. As reacções tanto do Partido Conservador como do Partido Liberal Democrata foram condenatórias para com as declarações de Jack Straw. O MCB aceita, por exemplo, que as mulheres muçulmanas removam parte do véu, no entanto, mantém-se obrigatório tapar o cabelo. É possível concluir que mesmo as organizações muçulmanas moderadas incluem uma componente religiosa na sua orientação e como base da sua própria existência (veja-se a constituição e adesão ao MCB), o que pode parecer pouco compreensível aos ocidentais, já secularizados.

A questão da integração das comunidades muçulmanas britânicas pode ser colocada desta forma. Devem os muçulmanos aderir aos costumes e leis ocidentais no Reino Unido e fazer parte deste sistema, ou devem manter-se como uma comunidade fechada que se dedica estritamente às práticas islâmicas com o objectivo de criar uma nova ordem mundial constituída por uma “grande massa” de muçulmanos, a Ummah[4]? A resposta por parte de teóricos islâmicos moderados é clara, como é o caso de Masud Ahmed Khan[5] ou de Mona Siddiqui[6]: os muçulmanos britânicos devem ser fiéis e leais à pátria à qual pertencem, e não confundir a fraternidade entre povos do Islão com o desejo de criar o Califado, cujos objectivos são de domínio político. As sondagens realizadas mostram que 81% dos muçulmanos britânicos se sentem como muçulmanos primeiro, e em segundo lugar como britânicos. Este valor é mais alto do que os verificados na Turquia, no Egipto, ou mesmo em França, em que 46% se consideram muçulmanos em primeiro lugar, e 42% franceses antes de muçulmanos. Contudo, o país em que esta sondagem revelou valores mais altos de identificação com a Ummah, a grande família muçulmana, foi o Paquistão, com 87%. Precisamente, a origem da maior parte da comunidade muçulmana britânica é paquistanesa, daí a fácil aceitação e difusão de valores islâmicos extremistas no Reino Unido. Não é de estranhar que cerca de 92% da comunidade paquistanesa seja muçulmana, em contraste com 53% da comunidade chinesa ou os 15% de ingleses, que se declararam sem religião.


Factores de Ordem Política

O combate político dos radicais muçulmanos assume uma enorme amplitude. Em muitas mesquitas e madrassas do Reino Unido é frequente a junção entre religião e política. Os sermões dos imams nas mesquitas são muitas vezes discursos inflamados contra o Ocidente e referências do Corão são adaptadas e transformadas para justificar qualquer tipo de acção contra os infiéis. As organizações de caridade ao mesmo tempo que montam sistemas de apoio social, como hospitais ou escolas, também dedicam grande parte dos seus fundos ao financiamento de grupos que praticam a jihad[7], fundos que são gastos em centros de propaganda, armas e escolas corânicas. Mesmo organizações moderadas como o MCB têm nas suas fileiras grupos como a Interpal suspeitos de financiarem a organização terrorista Hamas na Palestina, o que transmite a ideia de que existe um discurso “limpo” para fora, mas muito parcial dentro da comunidade muçulmana. Outro caso de financiamento e propaganda eficaz é o movimento Salafi, conhecido como os Wahhabistas. Estas organizações, através dos petro-dólares injectados na Arábia Saudita, disponibilizam literatura livre e subsidiada, ao mesmo tempo que treinam muçulmanos britânicos em universidades como a de Medina. Estes grupos têm uma visão muito ortodoxa do Islão e extremamente intolerante, tanto para muçulmanos como para não-muçulmanos.

O melhor exemplo de radicalismo religioso nos últimos anos no Reino Unido é Abu Hamza al-Masri. Este teórico muçulmano, alegadamente próximo da al-Qaeda, participou nos Mujahideen na guerra contra os soviéticos no Afeganistão e apoiou os muçulmanos bósnios nos Balcãs contra os sérvios, através dos esquemas de recrutamento de terroristas, de recolha de fundos para apoiar a causa e propaganda radical nas mesquitas para “sensibilizar” os crentes e infiéis para o que se estava a passar. Ao mesmo tempo que ganhava protagonismo entre a comunidade islâmica, distribuía panfletos a apelar à jihad contra os regimes corruptos do Médio Oriente, ao que chamava marionetas do Ocidente. A comunidade radical a que ele se dirigia segregou-se automaticamente das outras e instalou-se na mesquita de Finsbury Park. Os sermões tinham uma tonalidade anti-ocidental extrema, e no primeiro aniversário do 11 de Setembro Abu Hamza organizou uma conferência na mesquita para glorificar os sequestradores. Abu Hamza entretanto tinha ligações ao grupo al-Muhajiroun, conhecido por apoiar publicamente a al-Qaeda e pretender aplicar a sharia no Reino Unido, impor a conversão de todos os não-muçulmanos ao Islão de todas as formas, criar na opinião pública inglesa a ideia de que o Islão é um sistema perfeito e completo de vida e pressionar toda a comunidade a aceitar gradualmente a cultura islâmica, o sistema penal e judicial, os rituais, o sistema económico e social. A diferença é que este terrorismo de novo tipo, cujo símbolo é a al-Qaeda, está alicerçado numa componente dupla de política e religião, que pretende estabelecer esse domínio do Islão no mundo ocidental, e que tem como base tentativas bem sucedidas realizadas em território islâmico (Afeganistão, Somália, Sudão, Iémen). Entretanto, ao abrigo da anterior lei anti-terrorista de 2000[8], Abu Hamza foi preso e condenado a 7 anos por encorajar o assassinato de não-muçulmanos e de incitar ao ódio racial.

O problema que preocupa as autoridades e, em especial, a sociedade inglesa, é que estas ideologias radicais são progressivamente aceites pelas comunidades de 2ªgeração de muçulmanos britânicos. Em sondagens realizadas após os atentados de 7 de Julho de 2005, 5% dos muçulmanos inquiridos manifestaram aprovação pelos ataques, 13% acham que os terroristas devem ser considerados “mártires”, 16% dizem que os atentados foram um erro mas a causa é legítima e 56% conseguem compreender “por que algumas pessoas se comportam dessa maneira”. Por outro lado, 18% não ajudaria a polícia se suspeitasse que algum membro da comunidade estivesse a planear um ataque. Quanto ao uso da violência, 7% de muçulmanos apoiam o terrorismo contra civis no Reino Unido, no entanto esta percentagem sobe para 12% nos jovens entre os 18 e os 24 anos. Em relação às operações suicidas contra os militares no país, 21% responderam favoravelmente, enquanto essa percentagem foi de 28% nos jovens entre os 18 e os 24. Não é por demais concluir que há uma tendência de radicalização da comunidade jovem muçulmana no Reino Unido, e os sinais são muitos.

Um factor tradicionalmente expresso pelos muçulmanos para servir de justificação para a revolta do mundo árabe é a política externa anglo-americana. O MCB afirma que grupos extremistas tiraram proveito do papel do Reino Unido na guerra do Afeganistão e Iraque e do apoio cego de Londres e Washington a Israel, como uma oportunidade para recrutar mais muçulmanos para as suas organizações. O MCB, claramente um grupo opositor à “ocupação” da Palestina e invasão do Iraque e Afeganistão, aponta que há um sentimento global entre os muçulmanos de que a política externa anglo-americana lhes é hostil e que o aumento da probabilidade de atentados terroristas no Reino Unido se deve também a estas políticas. A organização dá mesmo o exemplo do jovem bombista suicida Shehzad Tanweer que, num vídeo, justificou o ataque com base na invasão do Iraque. O caso francês é interessante, considerando que a França se opôs publicamente à invasão do Iraque e se desmarca das acções preventivas do estado de Israel, tendo até relações privilegiadas com países árabes. No entanto, tem um problema idêntico na sua natureza ao do Reino Unido, com uma minoria islâmica mal integrada. A questão da política externa na minha opinião não tem a importância que se pensa comparada com as questões que realmente provocam a irritação e a exclusão da comunidade muçulmana, como as eternas diferenças religiosas e culturais, o avanço científico, a liberdade de expressão do Ocidente, a laicidade do estado, a visão do Islão como uma religião de luta e de Maomé como um guerreiro, e o sentimento de derrota de um mundo islâmico global às mãos do Ocidente, tanto no século VII em Poitiers, no século XV em Espanha, ou em 1918 na sequência da primeira Guerra Mundial com o desmantelamento do império Otomano e a extinção do Califado.


Conclusão

Há um conjunto de aspectos em que é possível garantir desde já que a sua evolução irá ter reflexos muito importantes na propagação ou extinção deste tipo de terrorismo muçulmano. A evolução demográfica da comunidade britânica muçulmana no Reino Unido em comparação com a nativa é um ponto essencial para definir os contornos da situação do Islão no país. E as perspectivas não são optimistas para a manutenção de uma maioria de raça branca cristã a longo-prazo. A comunidade paquistanesa tem um rácio[9] de nascimentos menos mortes, de 2001 a 2003, em milhares, de 28, enquanto que a comunidade do Bangladesh tem um rácio de 12. Os nativos (ingleses, irlandeses e outros indivíduos de raça caucasiana) têm um rácio negativo de (-5). A migração total internacional, em milhares, é de (-66) para os ingleses caucasianos, (-7) para os irlandeses, no entanto, é de 17 para os paquistaneses, de 8 para os migrantes do Bangladesh e de 47 para os indianos. Por outro lado, as comunidades asiáticas muçulmanas são muito jovens comparadas com as nativas. A população de origem paquistanesa com menos de 16 anos é de cerca de 35%, e no caso do Bangladesh chega quase aos 40%. Os ingleses caucasianos menores de 16 anos constituem apenas 20%. Com estes dados, a tendência será de um natural crescimento destas comunidades muçulmanas no país e um aumento progressivo da sua influência no Reino Unido. Torna-se, por isso, urgente integrar rapidamente estas comunidades, o que passa obrigatoriamente por melhorar as condições socio-económicas em que vivem. A sua participação cívica também é um factor decisivo, tanto nos partidos com representatividade, como em organizações laicas e de origem anglo-saxónica. Há bons indícios de maior integração em certos domínios, como a melhoria impressionante do aproveitamento escolar entre a comunidade do Bangladesh e as condições económicas florescentes da comunidade de origem indiana. A progressiva adaptação social e económica dos muçulmanos no Reino Unido poderá trazê-los mais intensivamente para uma participação activa na sociedade inglesa, e a eleição de alguns membros moderados destas comunidades para cargos políticos de responsabilidade contribuirá para isolar os líderes religiosos mais radicais. A situação terá de ser radicalmente diferente porque, não só no Reino Unido, mas também em países como a França e a Alemanha, o crescimento da comunidade muçulmana é enorme e os esforços para a sua integração terão de ser intensos, caso contrário, viver-se-ão momentos muito difíceis.

Outra vertente essencial para a integração dos muçulmanos, tanto no Reino Unido como na Europa, é a evolução da situação no Iraque, na Palestina e os casos isolados da Turquia e do Irão. O Iraque vive uma situação de eminente guerra civil, no entanto, não tinha eleições livres há cerca de 100 anos. O estabelecimento de uma democracia plena de sucesso naquela região do globo é decisivo para o Ocidente, e poderá mudar muita coisa em regimes profundamente teocráticos e religiosos, como é o caso da Arábia Saudita. Os muçulmanos precisam de referências no mundo islâmico, e neste momento ainda não existe uma democracia plena secular nesse mundo, com a excepção ao caso muito especial da Turquia. Só o tempo dirá se é possível fazê-lo que não à força, como é o caso turco. O caso da Palestina alimenta todo o tipo de ódios do mundo islâmico contra o Ocidente. Líderes muçulmanos, como é o caso do Rei da Jordânia, apontam que a resolução desse problema é o primeiro e decisivo passo para construir uma paz duradoura no Médio Oriente. A inclusão da Turquia na União Europeia, e a melhoria das condições socio-económicas dos turcos, certamente que contribuirá para uma menor desconfiança em relação ao Ocidente, ao mesmo tempo que alargará uma fronteira de estabilidade ao Iraque. O apoio aos grupos e partidos reformistas do Irão deverá ser constante, ao mesmo tempo que se deve prestar atenção à juventude desse mesmo país, que neste momento é impedida pelas autoridades de manifestar a sua opinião em blogues e em fóruns da Internet.

Todos estes factores terão influência directa na criação de um mundo livre e democrático. Esse terá de ser inevitavelmente o primeiro objectivo do Ocidente.



[1] Government Home Office – National Statistics

[2] Lei Islâmica

[3] Véu islâmico

[4] “Grande família de muçulmanos”, termo associado á criação do Califado

[5] Webmaster muçulmano citado na BBC

[6] Professora de estudos religiosos e de teologia na universidade de Glasgow

[7] Guerra Santa

[8] Terrorism Act 2000

[9] Population Trends 2001-2003 em milhares