quinta-feira, 3 de março de 2011

Falar claro: João Décio Ferreira (Médico)

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Já João Décio Ferreira, no mesmo comunicado, faz várias críticas ao país e ao poder político. “Após 41 anos de descontos e 65 de idade reformei-me. Fiquei com uma só reforma calculada a partir dos descontos que fiz nesses 41 anos. Outros, coitados, como acontece com algumas pessoas importantes em Portugal, que toda a gente conhece, devem ter descontado 80 ou mesmo 120 anos para ter direito a duas ou três reformas. Tenho recebido assim todos os meses na minha conta bancária 1911,79 euros líquidos (já tirada a retenção na fonte) desde que me reformei em 24 de Junho de 2009. Agora parece que vai ser reduzida para, voluntariamente obrigado, contribuir para pagar o buraco do BPN, as segundas e terceiras reformas milionárias de alguns importantes, os 'brinquedos' das Forças Armadas, as mordomias dos políticos, etc., etc., tão necessárias ao país como todos sabem”.

O cirurgião critica, por isso, que o Ministério da Saúde venha dizer que criou um regime excepcional para voltar a contratar os reformados de áreas necessárias para o SNS, quando o que propõem é “seis euros à hora brutos”, defendendo que uma “mulher-a-dias” recebe mais. “Não pude por motivos óbvios aceitar esta proposta. Não estou em posição de descer tão baixo. Não me parece que qualquer licenciado e ainda por cima no topo da sua carreira profissional permita ser assim tão achincalhado. Há limites que a própria honra impõe”, insiste.

Ainda assim, Décio Ferreira está disponível – por motivos deontológicos e “por amor à camisola” – para colaborar em casos pontuais e urgentes. “Sei que com esta atitude terminam por agora estas cirurgias a nível do SNS português. Tenho pena de deixar tanta gente numa situação eventualmente desesperada. Com a nova lei que estará prestes a concretizar-se vão ter finalmente o nome e o sexo mudado nos seus documentos. Mas não vão por agora na sua maioria ter o que sempre mais desejavam desde criança: adaptar o seu corpo ao seu género, ao género do seu cérebro.” O cirurgião termina o comunicado alertando que há um hospital privado interessado no seu trabalho e que tem acordos com a ADSE, mas lembra que todas as pessoas sem este subsistema ficam de fora.
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Extracto de um artigo no Jornal Público on-line de 2 deMarço de 2011.