quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mundo actual (II) - Estado da Educação em Portugal

Num mundo globalizado de elevada concorrência, onde os países ocidentais cada vez mais competem directamente com os BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) em vários domínios da economia, é essencial apostar nas indústrias do conhecimento. Para formar clusters em determinados sectores, é indispensável a existência de um pré-requisito: universidades reconhecidas com produção científica de qualidade.

Em Portugal, tristemente, a política de educação adoptada desde o 25 de Abril tem sido um absoluto desastre. O tema que pretendo lançar no blog é o estado da educação em Portugal.

Em primeiro lugar, o modelo de gestão das escolas públicas é profundamente retrógrado. Actualmente, as escolas não têm a possibilidade de poder competir pelos melhores professores, de estabelecer os seus objectivos, de avaliar livremente os seus professores, de poder escolher os seus alunos. No fundo, não podem actuar como entidades autónomas e competitivas. Será tão difícil sequer pensar numa realidade oposta? Em Portugal, sim. Sobretudo, porque temos um Ministério da Educação que tudo centraliza. Uma entidade que decide pelas escolas. Um sistema que não as responsabiliza.

Em segundo lugar, todos os trabalhadores devem ser avaliados pelo seu trabalho. Tanto mais, sendo ele de tamanha importância para o futuro do país. Quanto mais temos de esperar por um modelo de avaliação dos professores? Será assim tão difícil construir um sistema de avaliação que corte radicalmente com um passado de progressões automáticas e direitos adquiridos? O que temos actualmente é um esboço de avaliação, baseado em 4 critérios absolutamente gritantes, que nem sequer devem ser sujeitos a discussão. Fazem parte do pré-requisito de ser professor.

Em terceiro lugar, a total ausência de responsabilização do aluno ainda se torna mais grave tendo em conta que o sistema, ao tentar desculpar o aluno mal comportado, não o está a preparar para singar na sociedade, através do mérito e do trabalho. O aluno mal comportado não merece desculpa. O respeito pelo adulto deve ser ensinado em casa, mas na escola tem de ser reforçado, ou mesmo imposto. Todos estes anos de escola "inclusiva" não serviram para activar mecanismos de punição ao aluno irresponsável, que apenas prejudica aquele que quer aprender. Mas como pode uma escola agir contra o aluno que transgride, se não tem os instrumentos e o poder para tal? Como pode fazê-lo, se o processo é altamente burocrático?

Em quarto lugar, a escola "inclusiva" banalizou a obtenção de um nível secundário de educação e de um diploma universitário. Será assim tão difícil considerar uma estratificação do ensino, como existe actualmente na Alemanha e França? Países onde os melhores alunos seguem diferentes percursos em escolas e universidades de nível mundial e com currículos adaptados. Para formar elites, é indispensável diferenciar e dar condições.

Em quinto lugar, como está a escola profissional em Portugal? Porque não se considera de uma vez por todas a aposta neste tipo de escolas que oferecem cursos que podem preparar técnicos em variadíssimas áreas, que Portugal bem precisa.

Por último, num contexto de competição global no domínio da alta tecnologia, não será de repensar os currículos escolares assentes em matérias desactualizadas dos anos 70 e 80? Quando verificamos que a nossa economia se está a reestructurar no processo de fabrico, de produtos de baixa tecnologia assentes em manufacturas de capital intensivo, para bens de tecnologia média/alta, constatamos que precisamos de mais engenheiros, químicos, físicos, matemáticos e informáticos. Certamente que, num contexto de decadência económica continuada e enraizada, a nossa prioridade não devia ser a formação de psicólogos, jornalistas e advogados. Os currículos devem, definitivamente, ser repensados. Não quero, contudo, que se opte por dar menor atenção aos programas de história, português, filosofia, sociologia. Temos obrigação de fornecer a melhor formação no domínio das humanidades, o que não acontece actualmente.

Seis pontos que considero essenciais discutir, numa profunda reforma educativa que se exige.