quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Benazir Bhutto (1953-2007)

Apesar de ser acusada de crimes de corrupção durante os anos como primeira-ministra, Benazir Bhutto era reconhecida como a principal personagem capaz de devolver a esperança ao Paquistão de se tornar um país moderno, secular e democrático. A morte da opositora de Musharraf e Sharif mostra a irracionalidade e a força do terrorismo, e onde se situam as linhas da frente no combate à liberdade e costumes de uma região (ainda) não regida pela Sharia, ou inserida num Califado. Esta guerra, que se pode considerar como a 3ªguerra mundial devido à dispersão das suas frentes, já está às portas da Europa. Os tumultos em Paris não se podem dissociar de um confronto que envolve diferentes escalas e formas de combate. A al-Qaeda está bem activa em países como a Argélia, Marrocos, Egipto, Somália, Iémen, Afeganistão, Iraque, Paquistão, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Por detrás de conflitos regionais, escondem-se motivações à escala global. As gravações de vídeo difundidas em sites de extremistas fazem-nos lembrar das reais motivações dessa gente.
A questão essencial é política. A religião é apenas uma forma de juntar uma legião de fanáticos para levar a cargo as acções de guerra. A difusão da mensagem passa pelas madrassas, situadas tanto em Londres, como nos subúrbios de Paris, Milão, Nova Iorque (como testemunhei em Harlem), e em vários pontos do chamado mundo ocidental. Nos países muçulmanos, as madrassas mais radicais financiadas pela Arábia Saudita e os restantes estados sunitas do golfo pérsico, promovem o wahhabismo, uma corrente islâmica medieval que se associa às leis mais duras da Sharia. Estas mesquitas, nos países muçulmanos, difundem-se essencialmente no Egipto (com relativa complacência do Estado egípcio devido ao poder enorme dos radicais da Liga dos Irmãos Muçulmanos), Tunísia, Sudão, Somália, Iémen, Paquistão e Afeganistão. O jogo duplo da Arábia Saudita e restantes estados do golfo, que por um lado afirmam-se aliados dos EUA e do mundo ocidental contra o terrorismo, mas por outro financiam as ideologias que eles próprios afirmam estar a combater, tem de ser definitivamente confrontado. Não é possível negociar com imames que são apologistas de que os seus melhores alunos são aqueles que estão dispostos a morrer pelo Islão. Não se negoceia com o irracional.