terça-feira, 14 de agosto de 2007

Crise do subprime nos EUA


A crise do mercado americano subprime, concretamente, o mercado dos empréstimos à habitação não era esperada. Mesmo com a progressiva subida das taxas de juro pela Federal Reserve americana, os empréstimos nunca foram tão baratos e as garantias exigidas tão poucas. Nos últimos anos, os Leverage by out sustentaram grande parte do crescimento das empresas dos países desenvolvidos. Deste modo, as empresas optaram pelo endividamento em vez do retorno a capitais próprios para investirem e gerarem retornos desse investimento. Uma era de confiança (pós 11 Setembro) que permitiu ao mercado mundial crescer a valores elevados. No entanto, numa altura pouco propícia, uma série de defaults assola o mercado de empréstimos à habitação americano.

Entramos pois numa era a que a revista Economist denomina de credit squeeze. Este aperto ao crédito vai provocar efeitos distintos em determinados grupos. Na maioria das empresas do mundo desenvolvido, espera-se que o efeito não será muito problemático. Porquê? Acontece que estas empresas investiram grandes quantias de dinheiro proveniente de empréstimos muito favoráveis, e com esses investimentos geraram, regra geral, lucros muito satisfatórios. Deste modo, a maioria das empresas nestes mercados tem cash flow suficiente para as necessidades de curto-prazo e capital próprio para novos investimentos. O reflexo desta crise nos mercados em desenvolvimento também se espera pouco problemático. A maioria destes países tirou lições das crises asiática e da Rússia no final dos anos 90, e preparam os seus sistemas financeiros de modo a acomodar estas crises. Da mesma forma, estes países também renegociaram contratos de empréstimo e obtiveram maiores quantidades de reservas de moeda estrangeira. O maior risco desta crise acaba por se dirigir aos consumidores americanos endividados. O aumento de consumo excessivo nos últimos anos (no caso americano) não vai subsistir numa época em que os preços das casas estão a descer e o preço do petróleo aumenta exponencialmente. Esta situação mais tarde ou mais cedo levará a uma recessão na economia americana, que vai afectar o resto do mundo. Resta saber se a FED americana vai mexer nas taxas de juro de modo a potenciar o consumo.


A situação não é grave. Estas crises financeiras, pelo menos nos países desenvolvidos, têm sido resolvidas, e esta ainda não assumiu sérias proporções. O risco tem sido diversificado com novos instrumentos financeiros (Credit derivatives). Aliás, nunca esteve tão disperso como agora. Mas também estas novas opções e tipos de investimento nunca foram realmente testados. Quem vai arcar com as consequências das taxas de juro altas são, naturalmente, os bancos. Apesar de se apresentarem com balance sheets saudáveis, uma série de defaults no subprime terão de ser pagas por lucros (cada vez mais gerados pela banca de investimento). E sem esses lucros, dificilmente os bancos vão disponibilizar fundos. Uma crise no sistema bancário iria gerar certamente um pânico sistemático. Uma situação destas parece, contudo, ainda longe de se atingir. Basta observar as balance sheets dos bancos comerciais americanos neste ano (e dos portugueses também!) para demonstrar o quão preparados parecem estar.

Para terminar, é de assinalar que a resposta do mercado accionista a esta crise no mercado subprime correspondeu a uma queda violenta de 311 pontos no índice bolsista Dow Jones em 26 de Julho, mas que não deixa de ser apenas a 698ª maior da história. Veremos quais serão as consequências da crise do subprime nos mercados mundiais nos próximos tempos.

PS: É ridícula a afirmação dos nossos jornalistas de economia (dos jornais e televisões generalistas) de que os efeitos desta crise não serão sentidos em Portugal. Se a Europa é afectada, Portugal leva logo a seguir, não tenham dúvidas. Esta crítica não se aplica ao excelente jornalista (subdirector de informação da SIC) José Gomes Ferreira, sempre muito bem preparado para falar de assuntos de economia, eloquente e preciso qb.