segunda-feira, 30 de março de 2009

CRIATIVIDADE


«Mas como é que se promove? Você geriu criativos, escreveu um livro sobre gestão de criatividade...
Muitas destas pessoas criativas perdem-se no sistema. Uma das razões por que as perdemos é porque não sabemos quais são os sinais que nos permitem identificar as pessoas criativas. Uma das razões por que eu escrevi o livro foi para dizer "vamos procurar estas pessoas e vamos ver o que conseguimos fazer com elas". Algumas podem ser completamente loucas, mas podemos arriscar. Neste momento estamos a perder as pessoas mais criativas. Devem estar a trabalhar no McDonald's ou coisa parecida. Estamos a perdê-las porque as nossas instituições e as nossas empresas não conseguem aceitar as pessoas mais inconformistas, as pessoas que resistem à autoridade.

Perdemo-las ou deitamo-las fora? As empresas não se tentam mesmo ver livres delas?
Claro que sim. Não as querem. Há um trabalho muito giro sobre artistas, músicos, pintores e cientistas que diz que eles fazem o seu melhor trabalho depois de terem trabalhado numa dada área durante dez anos. Chamam-lhe "os dez anos de espera" (the ten year wait). Ora quantas empresas é que estão disponíveis para esperar dez anos que um artista escreva a sua obra-prima? Nenhuma. Tem de escrever a sua obra-prima para ontem, se não vai para a rua.
E, mesmo quando conseguimos encontrá-las e as metemos numa organização, as coisas também não funcionam. Muito do que eu escrevi baseia-se no trabalho de Teresa Amabile, da Harvard Business School, que tem feito muita investigação sobre criatividade. Ela tem uma teoria muito interessante sobre a "motivação intrínseca" das pessoas criativas. As escolas e as empresas começam a dar-se conta de uma coisa que é do senso comum: se não se gosta de uma coisa, é difícil fazê-la bem. Portanto temos de canalizar as pessoas para fazer aquilo que elas adoram fazer, para que a sua motivação intrínseca se mantenha alta.»

«É essa a receita para a criatividade nas empresas? Mais liberdade?
É certamente uma das coisas. Mas não só. Uma das coisas fundamentais é redundância. Se queremos criatividade, temos de disponibilizar muito mais do que aquilo que o sistema exige para funcionar - e não o mínimo indispensável, como se faz. Mais tempo, mais liberdade, mais espaço, mais recursos do que aquilo de que o sistema precisa. Mais tempo livre. A Google faz isso, com as Google Fridays; a 3M fez isso ao longo dos anos.

Mas isso é o contrário da produtividade, tal como é definida pelos gestores...
O contrário absoluto. O contrário do taylorismo. O contrário do just in time. Mas a criatividade não pode funcionar como uma fábrica onde o que queremos é que uma dada peça chegue à cadeia de montagem no exacto momento em que é necessária. Porque se queremos criatividade pode ser preciso qualquer coisa a qualquer momento. É por isso que é preciso redundância de recursos - o que é completamente contra a filosofia de gestão predominante.Mas ter mais do que os recursos necessários é, de facto, um investimento sensato.»

Excertos de uma entrevista a Gordon Torr, realizada por José Vítor Malheiros, publicada no jornal Público em 28 de Março 2009.


1 Comentários:

Às 21 de abril de 2009 às 12:46 , Blogger margarida disse...

"Criatividade", I know the meaning... ;)

 

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