quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Teixeira dos Santos sobre a crise financeira

Parece-me ainda muito cedo para afirmar que a crise financeira sub-prime terá um impacto reduzido na economia portuguesa. Penso que o ministro das finanças deve ter cautela em relação a uma crise em que Portugal não pode fazer nada, absolutamente nada, porque depende da evolução das economias americana e europeia. Nos EUA, esta questão está longe de ser meramente financeira. É uma crise que se alastra ao consumo privado americano. E quando isso acontece, os mercados asiáticos e europeus ressentem-se. Na zona euro, e em reacção à crise nos EUA, o Euro bate recordes na sua taxa de câmbio. Um euro com cotações elevadas tem reflexos directos sobre a competitividade das exportações europeias. Naturalmente, Portugal é directamente afectado por isto. Ainda por cima, as exportações portuguesas têm sustentado grande parte do crescimento do PIB nos últimos três anos.

Para analisarmos os efeitos concretos desta variação da taxa de câmbio, consideremos um exemplo aleatório que envolve as cotações do euro e do yen nos últimos 2 anos:

Novembro 2005 - EUR 1 = JPY 138
Outubro 2007 - EUR 1 = JPY 166

Preço Constante Volkswagen Novembro 2005 - 25000€ / 3450000 yen
Preço Constante Volkswagen Outubro 2007 - 25000€ / 4150000 yen

Esta variação, a preços constantes, corresponde a um aumento de 20,3% no preço de um automóvel europeu de 25000€ vendido no Japão. O yen bateu mínimos históricos face ao Euro em Julho de 2007.


2 Comentários:

Às 18 de outubro de 2007 às 11:58 , Anonymous Anónimo disse...

A verdade é que, sem prejuízo da ideia que fazes passar no texo (a qual vai de encontro dos fundamentos da macroeconomia), podemos adoptar um pouco a postura de "advogados do diabo". Passo a explicar:

Se é verdade que a valorização do Euro face às outras divisas de referência é, a priori, má para a performance das exportações da Europa, a verdade é que pode criar-se uma janela de oportunidade. Isto porque pode servir de estímulo à reorientação/recomposição da estrutura exportadora portuguesa, levando a um maior peso de sectores com alto valor acrescentado, em detrimento dos tradicionais sectores têxtil/calçado.

Aliás, se olharmos para o que têm sido os últimos anos a esse respeito, constata-se que o peso do sector tecnológico/bioqímica/comunicações no conjunto das exportações Nacionais tem aumentado significativamente. E isso é um bom sinal!

No fundo, esta valorização do Euro pode ser má no curto prazo mas não o será certamente numa perspectivade médio/longo prazo.

Cumprimentos.

 
Às 21 de outubro de 2007 às 11:08 , Blogger Gonçalo Pereira disse...

Partindo da situação em que estamos, só podemos melhorar. Os empresários estão mais que avisados que é necessário investir em produtos de maior valor acrescentado, qualificar os seus trabalhadores e investir mais em TI. Com a chegada do QREN, um subsídio de 20 mil milhões de euros, a nossa prioridade tem de ser qualificar bem. Mas quando vemos os indicadores de abandono escolar, de iliteracia, como podemos arrancar se ainda temos cerca de 40% dos jovens sem o 9ºano e 70% sem o 12ºano? Esta problemática, arrisco a dizer, é a maior do Portugal do século XXI. Se há falhanço nas políticas pós 25 Abril, esse foi a educação.

 

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